Por uma UBI Crítica e Plural
Texto por Nuno Miguel Cavaca AugustoPoderia começar este texto aludindo ou aconchegando-me a uma miríade de contributos de outros que não eu. Poderia referenciar Marx ou Weber, mas optei por olhar para a realidade sem filtros nem lupas. Este é um texto pessoal, uma opinião minha, um post que poria no meu facebook, se o tivesse.
Por muito que não queiramos, por mais que a burocracia se tente sobrepor ao bom senso, sabemos que a eleição de uma lista para o Conselho Geral tem subjacente a eleição de um reitor. Mas isso não significa que a discussão crítica e necessária sobre a UBI deva repousar numa lógica pessoal, mas sim em projectos e na possibilidade de os implementar/continuar/corrigir. Foram esses projectos que me levaram a integrar esta lista. Conheço-os, discuti-os e critiquei-os nos fóruns próprios, onde me foi dada essa oportunidade.
Discuti e critiquei um critério de avaliação da investigação e da internacionalização dependente quase exclusivamente do número de ISIs publicados. Considero-o desigual na relação com as áreas científicas, aparentemente inócuo na captação de alunos e potencialmente secundarizador do papel da pedagogia e da gestão. Mas não foi por isso que não me satisfiz com os dados apresentados no UBI Scientia deste ano, que apontavam para um crescimento significativo de papers internacionais, cujo efeito na avaliação dos diferentes ciclos de estudos é sobejamente conhecido.
Aquando da discussão dos regulamentos e do plano 2020 critiquei o reduzido papel das CCD’s na gestão da UBI. Continuo a crer que os departamentos constituem um eixo central da participação e da decisão e que o seu papel deve ser revisto e reforçado, o que acredito que aconteça em breve.
Receei que o esforço de internacionalização resultasse num corte com a comunidade local, regional e nacional. A verdade é que, em 41 anos de Covilhã e metade deles de UBI, nunca senti uma empatia tão forte entre a UBI e a comunidade. Neste, como noutros aspectos, concordo com a filosofia do plano 2020 – importa começar de dentro para fora, sem excessos de ambição nem de humildade, um processo necessariamente gradual de afirmação de uma universidade com as características da UBI.
A imagem de uma academia e, consequentemente, a atracção de alunos, depende de tudo um pouco – ambiente académico, investigação, pedagogia, relação com a comunidade, facilitação dos processos burocráticos, adaptação às novas tecnologias… Os resultados da avaliação da EUA, que muitos de nós conhecemos na semana passada, deixam claro que temos conjugado racionalmente estas e outras dimensões e são reveladores do crescimento e da capacidade de adaptação da UBI aos novos desafios nacionais e internacionais. Quanto à captação de alunos, os dados são conhecidos.
A esperança que eu senti ao ingressar num curso superior da UBI em 1991 é, para os jovens de hoje, um salto no abismo, um risco assumido. A precária condição socioeconómica da classe média, somada ao envelhecimento do Interior e à descrença nos benefícios de uma formação superior representam o mais penalizador dos cenários para as famílias, para os jovens e para a UBI. Ainda assim, a procura da UBI cresceu este ano. Mais do que isso, soubemos adaptar-nos aos desafios que a austeridade coloca a uma parte significativa das famílias, cujo desejo legítimo de ter/manter um(a) filho(a) no ensino superior se torna cada vez mais uma miragem. São bons sinais em maus tempos.
Ter uma universidade da dimensão da UBI pressupõe, felizmente, a presença de uma diversidade de áreas científicas, mas também de diferentes visões da academia e de diferentes perfis funcionais, condição fundamental para sua manutenção. É desta heterogeneidade que vivem as universidades, como as sociedades, caso contrário tornar-se-ão disfuncionais e desadaptadas da realidade. É dela que se alimenta a discussão crítica, se entendermos a crítica como a capacidade que combina a oposição ao que nos afronta com a satisfação com o que nos apraz.
Nuno Miguel Cavaca Augusto
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas