E se a UBI estivesse a ir bem?
Texto por André Barata
E se a UBI estivesse a ir bem, talvez como nunca esteve?
A aposta no ensino tem sido uma aposta levada com tanta seriedade na UBI que produz hoje a percepção nacional, plenamente justificada, de que a nossa universidade encarna um projecto educativo consolidado. Não será demais fazer lembrar que, em manifesto confronto com a tendência nacional, na UBI o número de estudantes colocados e efectivamente matriculados foi, este ano, superior ao do ano passado. Este dado não contrasta apenas com as condições adversas de uma tendência de baixa a nível nacional. Contrasta também com as condições adversas de uma localização no Interior do país, de um Interior cada vez mais interiorizado, cujo acesso vai sendo mais remoto e dispendioso, e também de um Interior cada vez mais desertificado, que não dispõe de uma base populacional capaz de proporcionar, de forma capaz, uma procura universitária autónoma. Porém, hoje, a UBI é uma universidade que capta novos estudantes em todo o país e, de modo consistente, também além-fronteiras, particularmente no espaço lusófono, o que é fruto do prestígio científico e institucional granjeado. Hoje a UBI é também uma instituição que goza, apesar de um quadro nacional preocupante, de boa condição económica e beneficia, entre os mais diversos parceiros, de uma reputação de grande credibilidade. Em suma, por que não darmos por assente o que é bastante evidente: a UBI tem feito as coisas bem!
A UBI não é uma universidade grande, sequer é antiga. Precisamente por essa razão, tem feito bem em não descurar o sentido universitário do seu projecto, seja no que já alcançou, seja, sobretudo, no que ambiciona ainda ser. A escala da nossa universidade não é compatível com a escala de projectos unipessoais – por notáveis ou notórios que alguns de nós sejam, é juntos que temos feito bem, co-responsabilizando-nos através das instâncias da discussão pública séria e consequente, mobilizando-nos em torno de uma ideia de desenvolvimento estratégico. Foi assim que alcançámos um Plano 2020 que mereceu uma louvável e unânime aprovação do Conselho Geral que em breve terminará o seu mandato.
Esta capacitação da UBI não teria sido sustentável no passado mais recente e certamente não será sustentável no futuro se, em detrimento da UBI que se preserva condições de robustez, privilegiássemos a irredutibilidade dos pontos de vista, o posicionamento idiossincrático, a personalização do protagonismo.
Disputar uma eleição para o Conselho Geral deve constituir uma oportunidade para submeter à discussão, à confrontação argumentada e, por fim, ao voto diferentes visões da universidade. É exactamente o que acontece nesta eleição do órgão colegial máximo da UBI. Também nisto temos estado bem. O pluralismo de listas que se candidatam à eleição para o Conselho Geral é um importante sinal da inteligência democrática da nossa instituição. Sinal importante sim, mas de alguma maneira também esperado em vista de outros sinais inequívocos que ganharam sedimento no último capítulo da história da nossa universidade. Por exemplo, nenhum dos regulamentos aprovados na UBI durante os últimos 4 anos se eximiu a uma discussão pública séria e consequente. Nenhum dos documentos finalmente aprovados se esquivou a incorporar aperfeiçoamentos, reflectir chamadas de atenção, acomodar sensibilidades. Foi assim que se obteve a aprovação de regulamentos de enorme susceptibilidade mas cruciais como o da avaliação de desempenho dos docentes. Uma cultura deliberativa, que convida à participação exigente das nossas preocupações comuns mas também convoca as nossas inteligências, conduzindo-nos a resultados colectivos incorporados é prova de maturidade de uma instituição que tem feito muito e muito bem. Chamemos-lhe aprender a divergir, para juntos convergir.
Uma universidade com dimensão humana e intelectual deve fazer da sensibilidade um desafio de unidade e não uma causa de dispersão, enfeudamento e conflitualidade. Isto significa que devemos procurar reconhecermo-nos nas mesmas regras, as que decidimos e revemos juntos, mas conferindo-lhes a sabedoria da sensibilidade à história da instituição, dos seus saberes, das suas Faculdades e Departamentos, e de cada um dos nossos perfis como investigadores, professores e intelectuais. E também significa que devemos persistir na escolha por lideranças de processos, as que têm confiado na força de juntos vermos melhor, e que têm feito da confiança e do envolvimento de todos a força decisória desta Universidade. Não precisamos de uma liderança visionária nem de um magistério, mas de uma liderança, como a tem interpretado o Reitor João Queiroz, que nos instigue a pensar e a fazer juntos. Ser universidade é isso mesmo: é sermos universais porque reunimos os saberes e nos juntamos como comunidade de professores e investigadores.
André Barata
Faculdade de Artes e Letras